sábado, 29 de maio de 2010

Histórias Longas




    Por que tanto fascínio com histórias alongadas? Por que existe um contínuo mercado preparado para sustentar esta cada vez mais crescente demanda por romances longos como a trilogia "Senhor dos Anéis"; Novelas da globo e outros canais nos mais diversos horários, diáriamente; Pelo menos uma centena de séries norte-americanas, européias e latinas todos os anos; Sequências de filmes, como Star Wars com seus 6 episódios (sem contar as animações); Jogos de video game como Silent hill que já vão de 0 a 5, com mais continuações planejadas para adiante; E por fim os quadrinhos, onde nem se fala no tamanho, muitas vezes descomunal, das sagas. Não, essa resposta do mercado não é casual, e muito menos o sentimento que incita essa demanda.


    É engraçado que nestes tempo.s apressados isso aconteça. Quando tudo o mais aponta para textos mais enxutos, histórias concisas em formato de conto, longas metragens com início meio e fim num prazo máximo de 90 minutos, microblogs como o twitter e discos Ep com meros 30 minutos de duração, ainda existe uma parcela mais do que significativa da população que ainda prefira as narrativas mais longas.


   Existem romances e romances. Há aqueles que se destaquem por um núcleo de 200 páginas onde a trama realmente ocorra, envolto por uma aura de 300 páginas de pura enrolação, assim como existem também romances sem uma página sequer de futilidade e enfeites narrativos. O mesmo pode-se dizer de outros formatos, tais como as séries de tv, embora isso costume ser mais a exceção do que a regra. Independente disso, no entanto, sempre existirá aquela parcela, não tão inferior assim do que esta, que independente da qualidade ali comprovada, ainda opte por narrativas curtas que compreendam, naquele espaço de reduzida temporalidade, uma qualidade alta o suficiente pra que se dispense as séries por completo (idem quanto ao romance e outros formatos). 


   Mas onde está a noção disso naqueles que optam por esse tipo de trama? A verdade é que certas pessoas se apegam tanto a um determinado tema e (ou) personagens, que acabam por escolher as versões longas, que, tirando a questão da praticidade temporal, podem sair ganhando em outros quesitos, como por exemplo o desenvolvimento das personagens. Num filme, por melhor que seja, não temos o mesmo desenvolvimento dos heróis, vilões e coadjuvantes, do que se poderia ter numa série. 
 
  Em "Twin Peaks", por exemplo. Se David Lynch a tivesse feito para o formato de filme e não de série, é certo que teríamos uma outra noção do agente Dale Cooper. Provavelmente continuaríamos gostando dele, mas com o prolongado período que o formato das séries permite, não nos limitamos ao gostar, nós nos apaixonamos por ele. E isso acontece em todas as boas séries. O Dr.  House da série de mesmo nome, fica cada vêz melhor a cada episódio; Os personagens de Battlestar Galactica tornam-se mais complexos e maduros a cada temporada, num amadurecimento que podemos perceber também nos atores, posto que vão ficando especialistas em interpretar e aprofundar aquela determinada máscara de expressão.




    As vezes tenho a impressão de que não são tão levadas a sério as séries, tanto como o são os filmes. Também não é sempre que se vê bons diretores de cinema trabalhando nelas. Mas se por acaso ficar sabendo que Copolla está fazendo algo, que David Lynch está em um novo projeto do tipo, ou quem sabe até um desses que jamais se esperaria numa empreitada do tipo, talvez Godard por exemplo ou Herzog, pode estar certo de que a coisa tem potencial para dar muito certo, uma vez que eles usariam as noções adquiridas no cinema para um formato mais extendido do que costumavam, sem a preocupação de cansar os telespectadores, afinal trata-se de uma longa história dividida em partes. 
 
   De todo modo, existem já alguma séries que já estão entrando para o hall das grandes séries, bem como acontece comumente com o cinema. Dentre elas posso citar algumas que acabo de citar neste post, tais como "Twin Peaks" de David Lynch, que em meras duas temporadas conseguiu construir todo um universo paralelo; "Roma", de Bruno Heller, não é boa apenas por ser a segunda série mais cara da história (atualmente está atrás de "The Pacific" de Steven Spielberg) mas por ter personagens históricos representados em atuações impecáveis, por atores nem tão conhecidos assim mas que acabaram dando um show. Isso sem contar com a incrível ambientação, nos remetendo ao sabor do mundo antigo; "Battlestar Galactica" de Ron Moore, por sua vez, consegue a proeza de, em meras 4 temporadas, derrubar de seus tronos séries consagradas, como "Star Trek" e "Star Wars". Com uma história meticulosamente bem contada, uma trilha sonora divina, bons atores e personagens bons o suficiente para que não se consiga decidir por um favorito, a série acaba por nos deixar excessivamente exigentes com as outras que vamos assistindo por aí.


   Novas e ótimas séries vão aparecendo. Uma que ainda está no ar é "Dexter", que conta a história de um psicopata e serial killer, que usa seu distúrbio "para o bem", assassinando criminosos desalmados nas horas vagas, e mantendo a fachada de homem de família, trabalhando para a polícia e tudo mais. 

Enfim, deixo no ar essa reflexão: Será que os homens da caverna já tinham o costume de contar histórias em capítulos, todas as noites, a beira da fogueira? Ou será que era preferível as tramas fechadas e curtas? 

Seja como for, acredito ser pre-histórico o hábito de se reunir em locais escuros em torno de uma fonte de luz para compartilhar narrativas. A diferença é que antes usávamos cavernas e fogueiras, sendo que agora usamos as salas escuras dos cinemas, ou quartos escuros com tvs, computadores e mesmo celulares. Não importa a época, a plataforma, o contexto, importa mesmo é o que acontecerá no episódio de hoje...



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