terça-feira, 13 de outubro de 2009

Religião Castrada




Entendo quem assume que não gosta de religião, assim como entendo quem não seja fanático por sexo. Sei que para os entusiastas de uma coisa ou outra parece algo impossível, daí aquele tipo de afirmação: "Sem Deus a pessoa não consegue nada..." ou "Como assim não curte sexo? No mínimo é bicha!". Mas a verdade é que certas coisas são inerentes e variam de pessoa pra pessoa.

Por que cito religião e sexo num só parágrafo? A verdade é que ambos os conceitos tem muito em comum. Para que se tenha uma idéia, darei um exemplo relacionando a fé cristã à sexualidade, veja só:


Você está na cama com a pessoa amada. O que você faz?

Beijar o pescoço?

Você não pode... Tem que começar pela testa...

Abraçar?

Deixa eu folhear o livro... Ah, sim... Pode sim... Mas sem mão boba, ok?

Peraí, ela quer ficar por cima? Não pode. O sacerdote falou, o livro confirmou e o senso comum assina embaixo: Nada dela por cima. Você deita por cima...

Abre as pernas e...

Peraí, não toque entre as pernas, o que está pensando?

Vai sujar suas mãos com o pecado?

Nah, camisinha nem pensar... O papa jamais aprovaria!


Olha, muitos defendem que religião é uma coisa social e que portanto as instituições religiosas são mais do que legítimas, mas nunca consegui ver as coisas dessa maneira. Talvez por ser uma pessoa naturalmente religiosa, não tendo o vício de ver tudo sob uma ótica mais sociológica ou qualquercoisaológica.

Religião não tem nada a ver com instituições. Trata-se de um sentimento que te move a ver significados transcendentes por trás de tudo, num impulso que te manda buscar além do banal e se religar a algo superior, independente de que se saiba o que exatamente é esse algo. Mas o que isso tem a ver com sexo? Ora...

Quando está na cama com seu parceiro ou parceira, você não segue um livro sagrado com um manual de instruções. O que te dá tesão não dará tesão a um sujeito Y, da mesma forma que poderá inspirar nojo no sujeito X. Tudo isso por um motivo muito simples: sexualidade é algo absolutamente pessoal.

Com as religiões afirmo o mesmo. Mediar tal força através de sacerdotes, livros de regra e instituições apenas cortou a ligação das pessoas com sua verdadeira religiosidade. O que resta é apenas uma sombra, uma casca sem recheio, onde existe socialização, regras morais que unem a sociedade etc, mas não a autêntica religiosidade em todo o seu fulgor. Não é a toa que muitos preferiram troca-la radicalmente pelo materialismo (o que não é mau negócio em vista do que são obrigados a engolir aqueles que se afiliam a tais instituições).

Os padres e sacerdotes de um modo geral passam por esse mesmo drama. Sei que nem todos são vampiros sacanas (embora desconfie de qualquer um), mas aqueles que levam a religião a sério, que tem potencial para ver além do que permitem suas bíblias, alcorões e etceteras sagrados, acabam se limitando, crescendo embrulhados em si mesmos, como rosas se desenvolvendo em caixinhas de fósforo.

Se você não entende o que é religiosidade senão por uma ótica intelectual, então esse texto de nada te serve. Talvez como curiosidade e só. Mas se isso for importante para sua vida, tente pensar na religiosidade como um livro em branco que Deus, Deusa, Forças Superiores, O Grande Espírito ou o que for, te colocou nas mãos. É pra você escrever e não o seu pastor, padre, monge... O livro é de todos mas cada qual com sua pena, que é movida por sua visão de mundo, que vem das suas experiências e intuições desde o berço e por aí vai, de forma autêntica, única dentre as demais.

Que possamos gozar sempre da benção das forças por trás de tudo.

Gozar sempre que der vontade e não apenas quando alguma figura de autoridade (questionável ou não) assim o decretar.

Seja no sexo ou na religião: Gozemos!



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