"Finalmente recebi a caixa c todos discos dos Beatles remasterizados! Cabulososhnizzle! Agora falta a c os discos em mono..."
um twitt do Marcos Mion
O Twitter é mesmo um fenômeno. O mundo inteiro fala dele. A identificação sustentada entre seus usuários e o novo serviço virtual foi imediata, sendo que vemos seus scraps por toda mídia. Revistas, jornais, programas de tv, no boca-a-boca diário. No Brasil o impacto só não foi ainda maior por não termos uma ampla inclusão digital a exemplo de países como Estados Unidos, Japão, Alemanha etc, onde deve estar provocando uma verdadeira histeria. Mas por que tudo isso?
Até pouco tempo atrás os sites de relacionamento se pautavam por uma variada gama de gadgets, isto é, espaço para videos, músicas, textos, fotos e assim por diante. O que antes cativava era a fartura de recursos, o que foi sendo aos poucos diluído em categorias, tais como sites de relacionamento: musicais, voltados para quadrinhos, para animais, para filmes e até mesmo para quem já morreu. Essa festa toda acabou dando origem ao Twitter.
Diferente de seus irmãos, o Twitter não aparenta se prezar pelo excesso, mas pelo minimalismo. Tudo começa com uma pergunta: “O que você está fazendo?”. O usuário tem um espaço para posts de até 140 caracteres. Lembrei na hora dos Haikais e sua leveza de expressão, e foi pensando nisso que já fui logo correndo fazer o meu. Os amigos de Twitter são seguidores e estes ficam observando o que você escreve de vêz, assim como fazemos o mesmo com aqueles que seguimos. O formato simplificado permite que pessoas mandem seus twitts (sei lá se é assim que se escreve) pelo celular, msn etc, o que facilita a postagem com uma certa frequência. Foi só um pouco depois que comecei a perceber o quanto o Twitter é na verdade superestimado. Ele não é como é em nome de um conceito de leveza, e o que eu chamei minimalismo na verdade tem outro nome: preguiça.
Na correria dos dias pós-modernos, as pessoas estão super atarefadas. Entre videos, músicas, quadrinhos, pesquisas corriqueiras, jornais virtuais, e-mails, e-books, games e sites de relacionamento, acabam optando pelo que for mais fácil. Entre o filme elaborado e o thriller ultra-dinâmico, optará por qual, geralmente, o moderno sujeito high tech, atarefado e ofegante, da primeira década do novo século? Entre um livro denso e um que lhe faça dar pequenas risadas, optará pelas risadinhas ou pelo terremoto que colocaria em risco sua letargia hype?
O Twitter, portanto, é um misto de sintoma e ferida de nosso tempo, uma vez que ele não apenas nos dá espaço para manifestar-nos mas nos obriga a um limite dentro de nosso já tão limitado paradigma, optando assim não por combater a preguiça generalizada mas por adequar-se a ela. Ouso dizer que o Twitteiro de carteirinha, muito provavelmente, é uma pessoa de pensamentos superficiais. Não estou falando daqueles que o usam de maneira estritamente prática, como padeiros que anunciam a hora do pão quentinho ou amigos combinando o melhor agite da noite, mas dos que nele mergulham, levando a sério a ponto de raríssimas vêzes ter algum ânimo para ler ou escrever mais de 140 caracteres, dentro ou fora do Twitter.
A correria de nosso mundo apenas lhe confere mais e mais força, uma vez que é de fato funcional e às falhas do hoje se adequa ao invés de tentar resolve-las. O problema fundamental, portanto, não é o excesso de informação simplesmente mas a nossa cada vez mais crescente incapacidade de parar para refletir sobre o que vamos aprendendo. O cérebro literalmente joga a maior parte na lixeira.
Nos tornamos pessoas cada vez mais superficiais. Já que tal perfil não desagrada a publicidade, a mídia parece optar por apoiar tudo que o sustente. O Twitter é um desses sustentáculos. Uma ferramenta interessante, sem dúvida, mas que no fim das contas reforça essa leviandade geral, nos fazendo engoli-la como sendo o arroz com feijão do senso comum. Começamos a aplaudi-lo cada vez mais ruidosamente, a mídia toda parece estar de pé, também a ovaciona-lo, e cada vez menos nos lembramos do porquê.
Se eu fosse um entusiasta do Twitter, tentaria minar o processo, ora usando-o para marcar eventos, ora escrevendo densidades concentradas no tal espaço de 140 caracteres. Mas como não sou empolgado com ele, prefiro mesmo me aventurar a escrever haikais, ou então concentrar-me no bom e velho blog, onde posso escrever quantas letras quiser, do jeito que considerar melhor e só para aqueles que ainda conseguem suplantar a preguiça e a pressa generalizadas. A estes a promessa do pote de ouro ao fim do arco-íris talvez não se concretize, mas a probabilidade é de longe muito maior.
Já pra turma do Twitter, lhes deixo um dos twitts mais famosos do mês de outubro, tentem refletir sobre isso pois se tantos o seguiram, talvez eu esteja caducando e isso seja mesmo, de alguma maneira oculta, bem profundo:
“Ai, que sonooo! Também... Depois dessa feijoada... (Recuperei todas as calorias q gastei na malhação de hoje! Hehehe... Assim não dá!)
um twitt da Sandy
Se bem que até tem uma vantagem em ler merdas como essa: Dá vontade de ler um bom livro pra compensar essa pungente ausência de qualquer coisa.
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