Tem dias que tenho a impressão de que algumas filosofias bastante antigas me parecem na verdade muitíssimo atuais. Dentre essas temos o exemplo vivo do xamanismo, que tem sido utilizado com sucesso por correntes da psicanálise e mesmo outras áreas científicas (teoria gaia, por exemplo). Mas gostaria de enfatizar um caminho antigo semelhante ao xamanismo até onde sabemos mas que possui suas especificidades. Trata-se do druidismo.
Para começar, a própria palavra "druida", que tem o significado de "aquele que encontra as fontes". Isso era algo que apresentava um certo duplo sentido, afinal as fontes eram importantíssimas para os povos celtas. Não é a toa que houvessem tantas divindades diferentes para representar lagos e fontes. Temos inclusive a Dama do Lago ainda viva nas histórias da távola redonda não por acaso. No entanto, os druidas eram também tidos como sábios e com toda certeza posso afirmar que ao menos parte daquilo que nomeamos de "sabedoria" tem muito a ver com isso: a arte de encontrar as fontes.
Não importa se passaram 2, 3, 4 mil anos. Achar fontes é hoje em dia uma arte sem igual. A era da internet nos permite acesso á uma multidão de temas quase infinito, numa espécie de labirinto em forma de teia, sempre mutante. Se quero buscar saber de um determinado assunto, tal como: estrelas, por exemplo, não vou encontrar muita coisa importante no site do Uol, mas se eu pesquisar usando o mecanismo de busca mais apropriado acabarei chegando ao site do Hubble ou algum outro derivado do site da Nasa. Das próximas vezes em que precisar saber sobre estrelas já vou direto no Hubble.
Penso que um druida hoje em dia faria a festa com a internet. Claro que ele não se esqueceria do mundo ao seu redor, o mundo real e palpável (que por sinal precisa ser salvo, o que pra ele seria prioridade), mas certamente se utilizaria bem da internet como um modo de pesquisa, consulta de contatos, informações. Seria para ele um artefato mágico de grandioso poder mais do que uma fonte de bobagens infinitas. Aí é que está a questão: bobagens infinitas ou artefato de poder grandioso?
Não é preciso ser radical demais nesse ponto, eu sei. Um pouco de bobagem também é bom. O velho e bom equilíbrio se faz necessário aqui, como em tudo. Bobagem é bom de vez em quando pois é o que menos importa no fim das contas. Quanto ao que importa, para isso existem as fontes, aquelas que nos pouparão tempo e esforço, levando-nos o mais rápido possível rumo ao objetivo de nossa busca.
Mas o que buscar? O que focalizar nesse mar de informação e desinformação sem fim? Cada um tem seu foco. Ás vezes me imagino um druida pra tentar focar como ele focaria. Como seria seu critério? O pensador que mais me levou perto do que imagino ser tal critério é um sujeito chamado Heráclito. Só essa simples frase já diz muito nesse sentido: "Um pra mim vale mil se for o melhor".
Heráclito não para por aí. Quando diz sobre o conhecimento que é essencial, escreve:
"O conhecimento que rege tudo através de tudo" e que "é diferente dos demais (conhecimentos)"
Fico imaginando esse filósofo usando a internet e então chego perto do que imagino e intuo ser o modo de focar que o druida apresenta ante as coisas e assim vai achando as fontes.
Estou certo de que existe um druida em cada um de nós, bem como um Heráclito e também um tolo. Sabedoria é não deixar que nenhuma dessas facetas predomine por completo por tempo demais. O tolo pode ser motivo de diversão garantida, para si e para os outros na ocasião apropriada. Mas se o tolo predominar, morre o Heráclito, esquece-se o druida que existe em nós. Troca-se as fontes pelas poças.
A partir de agora trarei para este blog, todo mês, nesta mesma coluna, uma dica de site do mês, tendo em vista essa perspectiva do "foco de um druida" dentro dos mais diversos temas. Os links serão colocados no final deste blog, lá embaixo. Confira...
sexta-feira, 6 de julho de 2007
As Fontes
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