sexta-feira, 13 de julho de 2007

Envelhecendo



É muito comum de se ouvir que as crianças hoje em dia estão mais desenvolvidas do que antigamente. E é verdade. Pesquisas tem mostrado que as crianças deste século tem desenvolvido muitíssimo mais em termos intelectuais do que as de outrora. Isso parece ter algo a ver com essa história de Era da Informação.

A velocidade com que somos atingidos com conhecimentos e notícias, somado ao nosso ritmo de vida, seja quanto a estudos, trabalho, internet etc, mal nos dá tempo de refletir a respeito de qualquer coisa. Assim, aprendemos muito em pouco tempo, embora o saber real, aquele que se adquire com reflexão, através de pausas pra pensar e produzir pensamento, esse tem se tornado cada vez mais raro.


Nas crianças isso já tem esse bizarro efeito "amadurecedor". Elas são consequentemente mais espertas, embora anuladas quanto á experiências de vida, que de forma alguma podem ser adquiridas por aquilo que não nos toca, como este mundinho virtual, por exemplo, ou mesmo aqueles das lan houses, onde os pais tem despejado seus filhos. Video games, televisão, lan houses, diversão virtual e segura. Experiência zero. Conhecimento mil. Espertos sim. Sábios? De jeito nenhum.

Se as crianças já estão envelhecendo mais cedo e ainda assim crescendo vazias, imagine os próximos velhos, aqueles que estamos para nos tornar? Sim, é triste mas é verdade. Esse ritmo acelerado de vida também nos tem envelhecido mais rápido. Não é só com as crianças é conosco também. E isso ilustra muito bem o que sempre considerei uma máxima, o fato de que maturidade e velhice não são necessáriamente conceitos interdependentes, assim como conhecimento não é sinônimo de sabedoria. Consequentemente, crescem crianças espertas e vazias, tornando-se adultos envelhecidos e frustrados pelo buraco da ausência de experiência. Seja bem vindo á pós-modernidade, hiper-modernidade, agoridade, chame como quiser. A consequência continuará sendo a mesma e já estamos sentindo na pele.


E quanto a mim? Tenho minha cota de experiências, pois valorizo isso mais do que tudo e principalmente mais do que o conhecimento. Troco mil vezes a melhor página do melhor livro
por algo que me toque de verdade, embora acabe que a experiência me leve até esta mesma página. No caso o conhecimento acaba sendo um fruto disso e não o contrário. Já reparou que tem certos livros que só entendemos de verdade depois que passamos por determinada experiência na vida? Pois é por aí. Isso já me levou a radicalismos contra a internet, o que também me foi muito útil, uma vez que ampliou o meu tempo, aumentando as minhas horas de leitura e escritura. Acaba que radicalismos não dão muito certo. Mas já sei como sou. Primeiro defendo um lado do extremo, condeno a internet ao inferno. Depois me afundo dentro dela até estar sufocado em merda virtual. Então chego num tipo de equilíbrio, este que acabo de atingir agora, desde que comecei este blog.



Quem me dera esse equilíbrio fosse algo como um nirvana, um tipo de estado zen que me fizesse superar meus defeitos e os defeitos de nossa era. Eu seria um buda agora ou algo similar. Mas infelizmente não alcancei tal estado de espírito. Primeiro porque não passo de um ser humano, segundo porque não acredito em metas ou finais, o que torna esta busca por equilíbrio entre conhecer e saber algo infinito, sem recompensa no final, embora com direito á pequenas sobremesas no caminho. Vou envelhecendo. Isso sim é um fato consumado e que terá um fim, a qualquer dia, a qualquer momento, no dia de meu último dia.

A diferença entre um velho sábio e um velho vazio é a seguinte. O primeiro não para de aprender nunca. Respeita suas próximas limitações, se fecha pra determinadas coisas mas só para poder continuar a se expandir em outras áreas, mais importantes no momento. Já o segundo se cerca de preconceitos e vive para sempre preso em sua ilusão de mundo perfeito, daquele passado dourado que jamais voltará. Provavelmente os dois se tornarão rabugentos, repetirão informações várias vezes, terão manias e tiques adquiridos com o hábito, mas em essência a diferença é brutal. O primeiro sabe que está crescendo e aproveita isso enquanto pode. O segundo tenta impedir esse processo. O medo da dor o leva ao medo da experiência, então ele se fecha.

Gostaria de ser um velho sábio, desde hoje. Um que não pare de aprender nunca, apesar das limitações. Que não pare de se expandir e se encantar, apesar dos hábitos repetitivos. Que não pare de viver a vida real com intensidade, apesar da internet. Que de algum modo jamais faleça, apesar da morte. Aprender ao máximo, de tudo um pouco, principalmente do que me falta. Cada dia um dia, cada instante um eu, ainda que carregando o mesmo nome e talvez a mesma barbicha tôsca. Envelhecendo... Fazer o que?



3 comentários:

Aldrin Iglesias disse...

Minha vó materna fez 80 anos. 80 anos ... cada ruga, um caminho q leva a uma história cujo o significado é infinito. fico sonhando: 40 anos de jornalismo eu? putz...
abraços.

Anônimo disse...

E aí véio?

Para mim você já é um velho sábio há algum tempo, mas concordo que não há ponto de chegada, apenas o caminho, por isso você ainda vai ficar mais velho e mais sábio. E esteja certo de que seu velho amigo vai estar ao seu lado, mesmo que de longe.

Outro abraço do Doidão.

canhoto disse...

putz bill, imagino ocê um velho com essa mesma barbicha mesmo. o texto tá muito bem elaborado, sintético e fluídico!